sábado, 3 de abril de 2010

O AMOR SE PERDEU NA PASCOA


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha ge meu endereço. O amor comeu meus cartões de credito.  veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. comeu minhas roupas,  meus sapatos,  comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos
 comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minha distimia, minha baixa-estima, meus raios-X. Comeu meus dentes, meus exames de urina.
comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos . Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém  sabia, estavam cheios de água.
roeu minha infância, de garoto pobre e inseguro,  sapatos  nunca engraxados.  roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, com os poucos amigos,

Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta.  as futuras viagens , os futuros planos de  vida .

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.